Como um dos Magos Humanos Eminentes no comando de um dos globos avançando em direção à fronteira lanthanoriana, o coração de Kerrex estava batendo forte no peito enquanto tentava, inutilmente, colocá-lo sob seu controle.

Desde que se formou na Academia Militar de Axelor, esta foi apenas sua segunda operação de guerra. A primeira foi apenas uma pequena escaramuça com Eldinor, na qual ele nem foi enviado a combate.

Mesmo que todas as possibilidades e contramedidas tivessem sido inculcadas nele repetidamente na Academia, a sensação de estar realmente em batalha era realmente outra coisa.

A primeira coisa que o atingiu foi a poeira.

Como a terra em frente à Muralha da fronteira lanthanoriana era estéril e com o solo solto, cada passo levantava poeira que invadia suas narinas.

De fato, no momento em que formaram os grupos de 500 e acionaram os globos, a poeira que levantaram com sua movimentação irritou seus olhos e os avermelhou.

Sua visão estava embaçada e a única coisa que mantinha seu grupo intacto era a voz aguda de seu Comandante.

Como alguém que se destacou na classe por sua capacidade de resposta ao comando, ele agradeceu aos deuses por ter se esforçado em ter se treinado para seguir as ordens no segundo em que foram dadas.

A segunda coisa foi o suor. Como cada grupo estava bem compactado, o suor que vinha devido à alta temperatura dentro do globo, causada pelo sol forte sobre eles, causava um fedor indescritível.

No Exército Axeloriano, homens e mulheres tinham esquadrões diferentes, sendo que o que atualmente atacava Lanthanor era totalmente composto pelo primeiro.

Assim, o globo inteiro era formado por homens suados muito próximos uns aos outros e que tentavam ignorar o cheiro para seguir em frente.

Terceiro e último, era o medo.

Como o que estava no centro, ele era o único com acesso à vista do lado de fora. Ainda assim, ele não tinha uma ideia completa do campo de batalha.

Cada vez que uma flecha passava zunindo e atingia o chão perto deles, ele e alguns outros novatos não podiam deixar de se encolher e se sentir gratos por não serem atingidos.

Fazendo malabarismos com todos esses fatores enquanto tentava controlar as batidas de seu coração, Kerrex continuou avançando.

Depois de ouvir que eles haviam, finalmente, passado pela última saraivada, ele relaxou um pouco.

Pelo que ele aprendera na Academia, o trecho mais perigoso e incerto já havia passado.

Após chegar a algumas centenas de metros da parede, haveria uma corrida louca, pois as balistas não poderiam ser disparadas nessa distância devido ao ângulo.

O objetivo era alcançar a muralha e mudar a formação do globo para um tanque, que atuaria como defesa quando os aríetes fossem trabalhar nas paredes da muralha.

O resto foi bem direto. Lanthanor atacava primeiro de cima da parede, jogando ferramentas explosivas ou queimando óleo, seguido por soldados se teletransportando para lançar ataques aos tanques.

Assim, ele teria um breve momento de descanso durante o qual poderia se recompor quando os lanthanorianos tentassem romper seus meios defensivos para forçá-los a fugir.

Pelo menos dessa vez, esse processo levaria muito tempo, pois ele recebeu vários meios defensivos, todos projetados para manter sua posição junto à Muralha.

Afinal, de acordo com a reunião antes da batalha, ficou claro que o objetivo principal era ocupar as forças de Lanthanor pelo máximo tempo possível.

“Sou só eu ou há menos impactos que o normal?”

Sendo tirado de seus pensamentos por um dos veteranos Guerreiro Humano Eminente ao seu redor, o rosto de Kerrex não pôde deixar de assumir uma expressão confusa quando ele percebeu que isso estava correto.

Cada salva de tiros consistia em, pelo menos, 150 flechas, onde a norma era que pelo menos metade atingisse suas marcas. Destes, um quarto geralmente tinha sucesso em desestabilizar os globos.

Assim, por qualquer medida, pelo menos 10-12 globos normalmente teriam recuado a essa altura. No entanto, todos eles ainda estavam marchando para frente.

Essa, era de fato, uma anomalia tão grande que Kerrex se perguntou por que o Comandante não havia dado nenhuma ordem para resolvê-la ou ao menos preparar contramedidas para quaisquer novos riscos no campo de batalha dos quais eles deveriam estar cientes.

Afinal, uma das regras mais importantes aprendidas na Academia Militar era que a informação poderia decidir vencedores e perdedores em uma guerra. Assim, se houvesse alguma anomalia ou se não houvesse informação suficiente sobre as forças inimigas, era sempre aconselhado bater em retirada.

No momento, parecia que esses dois fatores estavam em jogo, mas eles ainda estavam avançando.

Mal sabia ele que o Comandante Axeloriano havia recebido ordens de seguir com o plano, não importa o que surgisse, pois era a melhor chance que eles tiveram em décadas de montar um ataque bem-sucedido a seu mais odiado inimigo.

“Não, eles definitivamente estão perdendo a maioria de seus tiros. Bando de tolos lanthanorianos que são cegos como morcegos. Espere até que eles venham a nós. Vou mostrar a eles quão eficaz é minha técnica de espada dupla.”

O homem que respondeu era outro Guerreiro Humano Eminente que tinha várias cicatrizes no rosto. Com duas espadas curtas semelhantes nas costas, seu rosto tinha uma expressão de excitação, como se estivesse ansioso para usá-las em seus inimigos.

A cada passo, os globos percorriam rapidamente a distância entre eles e a Muralha.

Em apenas 1 minuto, eles seriam capazes de se apegar naqueles muros como uma sanguessuga.

À medida que os segundos passavam cada vez mais rápido, Kerrex se sentia cada vez mais seguro, pois sabia que logo estaria fora de perigo, ao menos por um tempo.

No momento em que estava prestes a mudar de uma postura tensa para uma mais calma, ficou paralisado e chocado com um som que assustou todo o exército de Axelor.

SKKKRRRR

Era um ruído de correntes vindo de um lugar que nem estava sob ataque dos globos: o portão da fronteira.

De proporções semelhantes aos do Tesouro Real, os 4 portões fronteiriços nos 4 lados de Lanthanor eram, na verdade, os pontos mais seguros da Muralha que protegia o Reino dos inimigos.

Os mesmos estudiosos que identificaram a ‘pintura’ e sua fraqueza – de poder ser dominada e destruída se houvesse poder suficiente para isso – ficaram chocados e sem palavras quando investigaram o portão.

Com cerca de 9 metros de altura e 3 metros de largura, as enormes portas quase nunca foram abertas. Ao contrário das paredes da Muralha, as portas eram feitas de uma liga que poderia defender qualquer ataque abaixo do Nível Campeão.

Nenhuma quantidade de aríetes poderia causar um amassado no portão, fazendo com que os Axelorianos nunca tentassem quebrá-lo.

Além disso, também foi dito que apenas um indivíduo tinha autoridade para abris os portões: a pessoa que possuía a Pedra de Juramento de Lanthanor.

Assim, ouvindo os sons vindos do local mais inexpugnável de seu inimigo, tudo o que os axelorianos puderam fazer foi continuar marchando sem vacilar devido à sua surpresa ou, como no caso de Kerrex, ao medo.

Embora fossem enormes, abriram-se rapidamente para revelar a imagem que cada um dos soldados axelorianos presentes lembraria até o último de seus dias.

Mais de 50 mil soldados, organizados em 100 grupos de 500 cada, começaram a correr para fora do portão, indo na direção de cada um dos globos marchando em direção à Muralha.

Do seu ponto de vista, era como se houvesse um canhão atrás do portão que lançava ‘balas de canhão’ de esquadrões em direção aos globos.

De volta ao globo de comando no qual o Comandante careca estava, o silêncio se seguiu, pois ninguém sabia o que dizer.

Isso não foi porque eles não tinham nada a dizer.

Pelo contrário, havia tantas coisas erradas na situação que eles nem sabiam por onde começar.

Primeiro, essa foi a primeira vez que os soldados marcharam para combatê-los, em vez de usar sua superioridade defensiva para fazer chover ataques de cima para enfraquecer seu ataque.

Não fazia sentido. Exceto perder dezenas de soldados, o que mais poderia alcançar?

Em segundo lugar, os soldados estavam correndo.

Sim, CORRENDO!

Em uma época em que o teletransporte era a norma, era simplesmente chocante ver soldados usando esse método primitivo para se aproximar de seus inimigos.

Terceiro, o Rei de Lanthanor estava consciente, pois foi capaz de dar a ordem para abrir o portão.

Muita coisa estava errada nessa situação. E o Comandante Axeloriano estava farto.

Suas ordens eram para continuar, independente das perdas que ocorressem, mas agora ele sentia que havia uma chance de serem eliminados, pois havia muitas anomalias.

Cerrando os dentes ele deu a ordem.

“Recuar. Comece a teletransportar de volta para a zona segura.”

Esta era a contramedida deles: simplesmente se teletransportar de volta caso as coisas ficassem terríveis.

Os Magos Humanos Eminentes fariam turnos para teletransportar os membros de cada globo de volta, enquanto o globo tentaria se defender contra-ataques durante todo esse processo.

No entanto, mesmo depois de alguns segundos, nada mudou no campo de batalha.

Como guerreiro, o Comandante Axeloriano só podia perguntar ao Mago Humano Exaltado ao lado dele por que diabos eles ainda não tinham teletransportado.

No entanto, ao se virar para o homem, percebeu que o rosto do Mago estava branco como um lençol.

Com um tom gaguejante, o Mago recitou as palavras que assombraram os pesadelos do Comandante Axeloriano, pois foi nesse ponto que tudo começou a dar errado.

“Comandante… o espaço está bloqueado. Eles, de alguma forma, implantaram ferramentas de bloqueio espacial sem que percebêssemos. O que fazemos?”