De fato, a outra parte do plano de Daneel era solidificar a posição de Eldra no coração dos cidadãos do Reino dos Elfos usando a Voz de Eldinor.

No domínio das notícias tudo era uma questão de timing. Como os eventos do Grande Debate aconteceram abruptamente, as três organizações de notícias tiveram que se esforçar e mudar os rascunhos já preparados que exaltavam a grande vitória da Rainha Eldara no debate.

Foi esse lapso temporal que foi usado com grande efeito por Daneel. Os jornais já haviam sido preparados e impressos previamente, de modo que pudessem ser vendidos nas ruas a partir do momento em que o Grande Debate terminasse.

Nem todas as famílias que perderam seus filhos escolheram participar do debate. Alguns, como a mãe de Ellie, não puderam vir devido a problemas de saúde ou por falta de esperança.

Assim, a Voz de Eldinor conseguiu obter um tremendo apoio devido à sua mão em informar os pais cujos filhos os esperavam no escritório do governo designado.

Na verdade, eles foram até mais rápidos do que o próprio Governo, que mais tarde fez o mesmo anúncio em toda a cidade utilizando uma ferramenta de comunicação que só era usada em emergências.

Além disso, o fato de as três grandes organizações terem difamado a mulher agora aclamada como a “Salvadora dos Elfos” não agradou ao público em geral.

Esses fatores contribuíram para um recorde de vendas de todos os tempos para a Voz de Eldinor.

Todos os jornais traziam um anúncio da Rede de Angaria, com a atraente manchete de que as primeiras cem mil pessoas que chegassem ao local indicado receberiam, gratuitamente, as ferramentas de comunicação.

As ferramentas mágicas eram a paixão e o sustento de quase todos os elfos em Eldinor. Assim, devido às informações sobre esta oferta se espalharem por toda a parte graças ao sucesso da Voz de Eldinor, as pessoas se reuniram para ver exatamente sobre o que se tratava esta rede revolucionária.

Uma única fonte de notícias de toda a Angaria Central! Isso foi tão inovador que muitos se perguntaram se era uma farsa.

Durante décadas, apenas os ricos possuíam meios para se informar sobre o mundo. O povo comum não tinha escolha a não ser depender de jornais que tinham recursos limitados, fazendo com que o resto do mundo ainda fosse um mistério.

Desta forma não foi uma surpresa ver todas as 100 mil ferramentas de comunicação desaparecerem ao meio-dia do dia seguinte ao Grande Debate.

Claro, cada ferramenta estava vinculada ao sangue e as pessoas foram instruídas a devolvê-los se não estivessem mais em uso.

Foi assim que a Rede de Angaria foi implantada facilmente em Eldinor.

Depois disso, surgiram, em todos os lugares, barracas que vendiam as bugigangas a um custo mínimo; ainda mais barato do que as ferramentas de comunicação regulares.

Claro, devido à beleza da linha de montagem, esse preço ainda permitia que Lanthanor obtivesse lucro.

Com as vendas estáveis e o interesse crescente, parecia que o empreendimento de Daneel não teria problemas em se tornar um grande sucesso.

…

Dentro do Palácio de Elfaven, na Sala do Trono.

No momento, seis Elfos estavam sentados frente a frente perto do trono vazio, que esperava que seu legítimo dono fosse decidido nas eleições que ocorreriam em apenas 2 semanas.

Debruçados sobre ferramentas mágicas de gravação, todos e cada um deles tinham expressões sérias enquanto ponderavam sobre algo.

Um elfo, que tinha uma constituição mais forte em comparação com os corpos habitualmente ágeis dos elfos, suspirou antes de quebrar o silêncio.

“Lanthanor. Eles poderiam estar se intrometendo nas eleições? Que notícias temos de nossos espiões no reino deles?”

Quem respondeu foi, surpreendentemente, o mesmo elfo que atuou como locutor no palco do Grande Debate.

O elfo musculoso estava falando com ele mesmo, então ficou surpreso ao ver o mais poderoso deles responder.

“O rei deles está em meditação a portas fechadas, ele não foi visto nas últimas 3 semanas. Claro, isso não significa que podemos tirar conclusões precipitadas de que ele está se intrometendo diretamente em nosso Reino. Por mais astuto que seja, duvido que tenha a ousadia de deixar a proteção de sua formação com aquela forca insignificante dele. Essa rede, no entanto, é intrigante. Nós não temos novos detalhes sobre o processo com o qual eles estão bombardeando nosso mercado com ferramentas de comunicação como se fossem apenas pergaminhos normais?”

Quem respondeu foi uma elfa de cabelos loiros e curtos, que destacavam suas orelhas pontudas.

“Nenhum. Existem apenas dois indivíduos com pleno conhecimento do funcionamento. Os outros só tem peças que são inúteis, sendo impossível obter partes suficientes para obter toda a técnica. Ainda estamos tentando, mas não haverá desenvolvimento em curto prazo.”

Com uma expressão descontente, o velho elfo de Nível Guerreiro disse: “Temo que o concorrente que atualmente lidera as pesquisas possa estar colaborando com Lanthanor. Ou encontramos provas disso, ou assistimos enquanto um possível governante fantoche assume o controle do nosso amado Reino. Não podemos ter uma repetição do Rei Aldevor.”

Era como se apenas a menção desse nome enviasse uma corrente de ar frio pela sala que fazia os outros tremerem.

Com uma voz levemente trêmula, um elfo baixinho com um cabelo ruivo bagunçado perguntou: “Isso é… isso é possível? O caso?”

“O juramento impediu nossa Rainha anterior de se envolver na escravidão?”

A resposta do elfo de Nível Guerreiro deixou os outros tensos, como se suas gargantas estivessem sendo apertadas por mãos invisíveis.

Felizmente, o sentimento desapareceu depois de alguns momentos quando o velho elfo recuperou o controle de suas emoções.

“O juramento tem muitas brechas. A rainha anterior provavelmente acreditava que, ao se envolver com a escravidão, ela poderia ganhar dinheiro que permitiria que ela fosse eleita novamente, o que significaria que Eldinor estaria em mãos capazes que resultariam em sua prosperidade. Portanto, o juramento não a restringiu de forma alguma. Nós. Precisamos. Provar.”

As três últimas palavras foram ditas acompanhadas de três pancadas quando o velho elfo baixou a mão no braço da cadeira, que rangeu como se fosse quebrar.

Após um silêncio durante o qual os outros pareciam hesitantes em falar, ele suspirou e decidiu encerrar a reunião, dizendo: “Continuem procurando. Felizmente as ações do Rei Aldevor nos permitiram instaurar a regra de que alguém pode ser investigado por traição sem o seu conhecimento, mesmo se eles estão no trono. Basta encontrar essa prova e eu cuidarei do resto.”

Depois que os outros assentiram, eles saíram da sala do trono, deixando o velho Elfo sozinho, sentado em sua cadeira, pensando nos assuntos do Reino.

Ao fazer isso, ele não pôde deixar de pensar no Rei que quase causou a ruína de Eldinor.

Ele tinha sido um elfo tão carismático que suas palavras tocaram quase todos que o ouviram, construindo-lhe seguidores que abriram os portões do palácio depois dele concorrer apenas uma vez nas eleições.

Só que, depois de assumir o trono, ele começou a implementar ordens que arruinaram o status econômico de Eldinor enquanto beneficiavam uma nação estrangeira.

Desde a antiguidade, o sistema democrático existia em Eldinor por causa da natureza individualista dos elfos. No entanto, este homem foi capaz de distorcer cada coisa que ele fez; enganando as pessoas no processo.

Foi somente depois de um ano que as crescentes evidências de que algo estava muito errado fizeram com que um estatuto fosse invocado, iniciando uma investigação sobre as ações do rei.

Com provas de sua conexão com o reino inimigo, ele foi imediatamente deposto, enquanto a regra adicional de constituir um comitê que poderia examinar as ações de um rei ou rainha, sem a permissão do governante se houvesse pelo menos uma pequena evidência, foi adicionada.

Infelizmente, o estrago já estava feito. Durante aquele ano, aquele rei fez com que a nação inimiga desse um salto no comércio de ferramentas mágicas que parecia quase insuperável até algumas décadas atrás.

Mesmo que muitos comandantes desejassem atacar aquela nação, Eldinor se absteve, pois, atacar apenas os deixaria vulneráveis aos outros.

Até hoje, o nome desse astuto Reino inimigo era amaldiçoado com frequência por comandantes que sabiam dessa mancha, que havia sido apagada da história devido ao constrangimento que trouxe aos elfos.

Era o Reino de Arafell.